Novidades
9/03/2021

Igualdade entre homens e mulheres nas empresas caminha a passos lentos

Escritora e psicóloga Júlia Rosemberg falou sobre a situação atual da luta feminina por direitos durante evento do Felsberg Advogados

Empoderar mulheres e promover a equidade de gênero em todas as atividades sociais e econômicas são ações que fazem parte da luta que marca o dia 8 de março como o Dia Internacional da Mulher. E para celebrar a data, o Felsberg Advogadas realizou no em 9 de março um bate papo virtual com a escritora e psicóloga social Júlia Rosemberg que há 19 anos atua em favor da valorização da diversidade e da sustentabilidade.

Co-fundadora da TECIDAS, consultoria que implementa e dá apoio aos processos organizacionais relativos à diversidade e sustentabilidade, Júlia entende que a presença feminina nas corporações brasileiras tem avançado muito lentamente. “A gente tem um avanço porque estamos discutindo cada vez mais, e timidamente alguns números sobem”, analisa. “Mas precisamos ter celeridade, principalmente quando a gente intersecciona e fala das mulheres negras”.

Júlia afirma que existem “números baixíssimos de mulheres negras ocupando posições estratégicas” nas empresas. “Quando a gente olha também mulheres trans e mulheres com deficiência a situação é ainda pior. Desta forma eu diria que a gente está avançando, mas a passos lentos.”

Pandemia

A pandemia do Coronavírus tornou a situação ainda pior. De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – PNAD, realizada anualmente pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), 8,5 milhões de mulheres perderam ou deixaram o emprego no terceiro trimestre de 2020 na comparação com 2019. Ou seja, mais da metade da mão de obra feminina acima de 14 anos está fora do mercado de trabalho.

Segundo a psicóloga, essa situação era prevista. “A gente já sabia que as preocupações da pandemia seriam as mulheres, em especial as mulheres negras, que são as mais vulneráveis da sociedade. Se a gente não criar estratégias efetivas de inserção dessas pessoas, vamos perpetuar esse abismo que separa homens de mulheres e mulheres negras de homens brancos, que continuam empregados, enquanto se mantém esse contingente de mulheres negras sem emprego.”

Na opinião dela é preciso que a sociedade olhe para essa situação e busque propostas de políticas públicas efetivas para dar conta dessa questão. Já as corporações precisam ter indicadores sobre a diversidade em seus quadros. “É preciso fazer censo, fazer diagnóstico e criar metas factíveis, que possam ser cumpridas”, analisa Júlia. “Não apenas quantas mulheres a empresa quer atrair para processos seletivos. Mas quantas mulheres ela quer contratar e em quais cargos. Não adianta apenas fazer projetos e programas de trainnee para pessoas e mulheres negras na base da pirâmide, enquanto o topo da pirâmide continuar sendo liderado por homens brancos e héteros.”

Júlia entende que é preciso, em paralelo, trabalhar a cultura organizacional. “É necessário criar uma cultura de respeito para com a diversidade”, analisa. “Ações afirmativas são estratégias fundamentais para que a gente avance nessa questão. Criar políticas compensatórias, de ações afirmativas, que dão esse impulso para a gente mudar a demografia interna”.

Um processo, que na análise da psicóloga, está caminhando, mas de forma muito lenta. “Os projetos de diversidade têm duas finalidades: uma é mudar a demografia interna; outra é mudar a cultura. A partir disso, como a gente pode criar essas políticas para acelerar esse processo de mudança. Existe um dado da Oxfam Brasil apontando que se mantivermos a tendência dos últimos 20 anos, os negros receberão o mesmo que os brancos em 2089. Como a gente dá celeridade para esse processo”?

A Oxfam é uma organização da sociedade civil brasileira criada em 2014 para a construção de um Brasil mais justo, sustentável e solidário, eliminando as causas da pobreza, as injustiças sociais e as desigualdades.

Dia de luta

A data de oito de março foi oficializada pela ONU (Organização das Nações Unidas) como Dia Internacional da Mulher na década de 1970 e simboliza a luta histórica das mulheres por melhores condições de trabalho e o fim do trabalho infantil, comum nas fábricas no século 19 e na primeira metade do século 20, e pela igualdade entre homens e mulheres.